"O Aroma da Despedida na Cafeteria Centelha Divina"

 



O Aroma da Despedida

A Cafeteria Centelha Divina sempre foi mais do que um simples café. Era um refúgio, um lugar onde histórias se cruzavam entre goles de cappuccino e o calor do acolhimento.

Naquela tarde, uma mulher entrou silenciosa. Seus passos eram lentos, seus olhos baixos, e seu semblante carregava o peso de algo invisível. Sentou-se em um canto discreto e pediu um café forte, sem açúcar.

Os clientes habituais e os funcionários notaram sua presença. Havia um ar diferente ao seu redor, uma tristeza que, embora silenciosa, era impossível de ignorar. Trocas de olhares aconteceram, e logo alguém se aproximou com gentileza.

A atendente pousou suavemente a xícara diante da mulher e, com voz delicada, disse:

— Se quiser compartilhar sua dor, estamos aqui para te ouvir, te ajudar e te acolher, nem que seja com um abraço.

A mulher ergueu os olhos, surpresa pela suavidade das palavras. Seus dedos envolveram a porcelana quente da xícara, como se buscassem conforto ali. Respirou fundo antes de responder:

— Não houve uma morte física… Mas perdi algo tão essencial quanto a vida. A mata que existia perto da minha casa foi devastada. Derrubaram as árvores, destruíram as flores, expulsaram os pássaros e silenciaram o vento fresco que dançava entre as folhas. A natureza, minha grande mãe, foi assassinada diante dos meus olhos.

Ela fez uma pausa, e sua voz ficou ainda mais baixa quando continuou:

— Minha vizinha cuidava de abelhas. Levava-as para nascer ali, entre as árvores e as orquídeas. Elas viviam em harmonia, polinizando, espalhando vida. Agora… não sei onde irão.

A atendente engoliu em seco e perguntou, com um nó na garganta:

— Para onde vão as abelhas quando se perde a primavera?

A pergunta pairou no ar, como um eco de uma dor coletiva. Alguém suspirou, alguém fechou os olhos por um instante. E, então, a cafeteria inteira compreendeu: o luto dela era também o luto de todos.

A mulher tomou um gole do café e pousou a xícara devagar. Depois, olhou em volta e viu nos olhos dos outros clientes um entendimento silencioso. A dor dela não era solitária. A mãe natureza, quando ferida, faz doer em todos os corações que ainda sabem sentir.

E assim, entre goles de café e palavras suspensas, a Centelha Divina se tornou, naquele dia, um templo de reflexão. Porque a perda da natureza não é só uma perda individual, mas um grito silencioso que ecoa na alma do mundo.

Reflexão Final

Vivemos tão imersos em nosso cotidiano que, muitas vezes, não percebemos as despedidas silenciosas ao nosso redor. Árvores caídas sem testemunhas, rios sufocados pela poluição, pássaros que não encontram mais abrigo. O luto pela natureza é real, mas raramente falado.

E se, ao invés de apenas lamentarmos, nos tornássemos guardiões do que ainda resta? Se ouvíssemos os sussurros das folhas ao vento e os acolhêssemos como preces?

Talvez, assim, as abelhas ainda encontrem um lar. E a primavera nunca deixe de voltar.


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