**O Julgamento do Amor: Uma Sexta-feira na Cafeteria Centelha Divina**

 


Na Sexta-feira da Paixão, o céu amanheceu entre nuvens pesadas e luz dourada. Havia uma calma estranha nas ruas, como se até os passos da pressa estivessem em silêncio. No coração da cidade, escondida entre livros, aromas e lembranças, a **Cafeteria Centelha Divina** abria suas portas como um abraço.  

O sino da entrada tilintou com suavidade.  

— Bom dia... — disse uma voz rouca, vinda de um homem de olhos claros e barba por fazer. Seu manto era simples, e seus sapatos carregavam poeira de muitos caminhos.  

Clara, a dona do café, sentiu um arrepio doce. Era como se aquele homem trouxesse perguntas que não se fazem com palavras.  

— Sente-se onde quiser. Temos cappuccino com toque de canela hoje. E pão de fermentação lenta...  

Ele escolheu a mesa do canto, onde a luz do fim da manhã tocava suave. No centro da mesa, havia um pequeno cartão escrito à mão:  
**“Hoje, reflita: você crucifica ou acolhe?”**

Alguns clientes começaram a ler em silêncio. E foi ali, entre goles de café e olhares atentos, que o homem começou a falar.  

— Sabem... naquela colina, há séculos, um inocente foi julgado. Não porque era culpado, mas porque amava demais.  
Todos queriam um herói com espada. Ele trouxe empatia.  
Esperavam justiça que punisse. Ele ofereceu perdão.  
E por isso... o crucificaram.  

Silêncio. Um menino que lanchava com a avó largou o pão para escutar.  

— Mas hoje — continuou o homem — ainda crucificamos.  
Crucificamos quem pensa diferente.  
Quem ama diferente.  
Quem erra tentando acertar.  
Crucificamos até nós mesmos... quando não nos perdoamos.  

Clara, atrás do balcão, sentiu os olhos marejarem.  
— E o amor verdadeiro? — alguém perguntou.  

— O amor verdadeiro não julga. Ele vê além.  
Ele não se apressa em rotular. Ele estende a mão.  
O amor verdadeiro é aquele que, mesmo vendo a sombra, escolhe acender uma vela.  

O relógio marcou 15h. A hora da morte.  

Mas naquele instante, na cafeteria, algo nasceu.  

Um homem perdoou o pai ausente.  
Uma mulher ligou para a irmã após anos.  
Um jovem decidiu não se ferir mais por um amor que partiu.  

O misterioso visitante terminou o café, sorriu e deixou sobre a mesa uma pequena cruz feita de papel. Nela, escrito com letras suaves:  

**“Não tema a dor de amar. Tema o vazio de não tentar.”**

Saiu em silêncio, como se tivesse apenas passado pelo mundo. Mas quem esteve ali naquele dia... nunca mais esqueceu.  

Na Cafeteria Centelha Divina, a ressurreição começou antes do domingo.  


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